Fiquei encantada, era como se eu estivesse olhando pra uma mulher meditando em uma energia de calma e plenitude. Fiquei olhando, olhando e olhando. Creio ter ficado uns 15 minutos olhando, talvez mais.
Existe uma frase que diz que toda arte tem um pouco, ou tudo, do artista. Então presumi que a pessoa que havia criado tamanha obra de arte era mais espetacular ainda do que a obra que tinha me encantado.
Olhei bem fixo nos olhos de Ianah, segurei a mão dela e disse, me conta a sua história porque eu quero conhecer você.
Ela com todo seu encanto sentou do meu lado e fomos conversando.
Em nossa conversa Ianah me contou que seu nome foi criado por sua mãe, pensando na sonoridade, e cujo o significado é a beleza do som. Mas a mãe de Ianah a deixou bem livre pra criar seu próprio significado, e ela já mudou seu nome de significado tantas vezes ao longo de sua vida. Mas hoje seu nome significa - Eu-, é como eu me chamo, diz a artista.
Ela sempre desenhou desde criança. Sua mãe sempre a incentivou e ela sempre gostou de desenhar. Aos 16 anos se especializou através de um curso e decidiu que seguiria a carreira de ilustradora.
A incomoda muito o fato da arte, as artes visuais serem predominantemente branca, já que as pessoas que estão reproduzindo a arte são brancas, em sua maioria e portanto as subjetividades que estão passando por ali sempre vem numa figura de uma pessoa branca.
Então, desenhar mulheres negras e indígenas faz parte da sua busca por uma melhor representatividade das diversidades étnicas na arte.
“Eu como mulher negra e descendente de mulheres indígenas também, me vejo nesse lugar de trazer um olhar mais aberto à diversidade.”
A foto acima é um dos grafites que Ianah mais gostou de fazer por ser seu retorno às ruas. Graffiti feito em Santa Tereza, Rio de Janeiro, em sua última vinda a Capital.
Ao mesmo tempo que Ianah estava expondo seus quadros ela também estava fazendo “Flash tatoo” com desenhos de sua autoria.
Sobre o interesse pela tatuagem ela conta que surgiu a partir de uma curiosidade em relação a essa área, junto com uma demanda pré existente. Pessoas já pediam desenhos para serem tatuados, então quando surgiu a oportunidade para ela foi muito natural aceitar como uma forma de arte a mais.
“Tenho procurado trabalhar essa questão da representatividade dentro da tatuagem, seja em peles negras ou não. Acho que é importante, inclusive que em peles brancas eu esteja tatuando figuras negras, porque normalmente não se tem. Normalmente os seres humanos, os homens, mulheres e crianças são representados de maneira universal, de maneira a representar toda a humanidade, através da figura de homens e mulheres brancos, então eu venho fazer esse trabalho de dizer:
- olha, pessoas negras também podem representar a humanidade, sabe ?!
Então se você quer fazer uma sereia quer fazer uma homenagem a sua mãe, por exemplo, vai ser através da figura de uma mulher negra. Tem gente que aceita, tem gente que acha massa que compra a ideia. Mas tem gente que não curte e eu digo que vá fazer com outra pessoa, me desculpe. ( Risos)”
Ela é inspirada por técnicas de alguns profissionais que a inspiram a melhorar, mas também é inspirada pelas paisagens naturais que acaba tendo contato conhecendo em seu caminho e por pessoas incríveis também, que a ajudam a ter novas ideias e mudam suas perspectivas. Ianah acredita que é a partir daí que ela vai aprimorando seu trabalho dentro desse tema.
Ela diz também que quando me viu olhando o seu quadro tão emocionada entendeu os motivos deu estar emocionada, pois não é normal ver figuras negras expostas em galerias.
O fato de ter conseguido passar sua mensagem é uma das coisas que mais a enche de orgulho. Ela se orgulha de conseguir colocar em paredes e galerias imagens de mulheres fortes.
Para ela ser um veiculo de transformação ideológica a respeito de pessoas negras, a respeito de mulheres e a respeito da relação do ser humano com a natureza é uma forma dela ver que cumpriu seu objetivo como artista.
Pois tendo como pilares, a negritude, feminismo e a ecologia integracionista, ela diz que não dá para pensar as lutas negras e feministas sem pensar ecologia. Pois eliminar as opressões humanas não adiantam muito se juntamente não forem eliminadas as explorações da natureza. Para ela é importante eliminar a ideia de que animais e plantas estão aí para serem nossos servos e serem explorados.
Eu ressaltei para ela a importância dela ilustrar mulheres com pelos, pois ajuda a trazer uma ideia maior de normalidade para algo que ainda é entendido como anti higiênico.
Ianah explica que a questão dos pelos faz parte de se aceitar como se é, aceitação da própria natureza.
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“Da mesma forma em que a gente aceita nossa pele e que a gente aceita nosso cabelo e que a gente sabe que isso faz parte da identidade de uma pessoa negra e não tem como negar, aceitar os pelos do corpo é aceitar que mulher é assim. É aceitar que a gente nasceu assim.
Na verdade não é muito saudável que a gente tente reprimir isso, da mesma forma que eu não acho saudável que a gente alise o cabelo, eu não acho saudável que a gente depile a perna. Opinião própria, assim, claro.”
Ianah tem um trabalho forte, encantador, representativo… e o que a inspira a continuar o que ela faz tão bem é essa liberdade para se expressar através do desenho e pintura, além do mais ela não consegue se imaginar fazendo outra coisa que não seja isso.
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